“É nossa tese que o olho também faz um compromisso para alcançar sua visão íntegra e precisa.”
J. Wayne Streilein
Sempre digo que o que mais me fascina nos olhos é que sua estrutura é feita de células, proteínas, MATÉRIA, mas é TRANSPARENTE.
Por que transparente?
E isso porque a imagem luminosa precisa chegar com nitidez nas células visuais da retina, que ficam no fundo do olho. Nada pode manchar esta transmissão luminosa, se não, a imagem não é perfeita.
Aí temos um problema: gastamos energia para funcionarmos, e ela nos chega através do oxigênio, carregado pelas hemoglobinas sanguíneas. As células do olho não são diferentes! Mas… o sangue mancha a transparência, atrapalha a transmissão da luz. E aí, como resolver esse impasse?
Como respirar para processar a imagem nítida?
A região central da retina (“mácula”), responsável pela acuidade visual, ou da visão de detalhes, é mais fininha e sem vasos!!! Justo para preservar a transparência dos meios e alcançar a imagem íntegra e precisa. E como respiram? O oxigênio chega pelos vasos que estão atrás da retina ou, na coróide.
Mais uma grande solução do Arquiteto da Vida! Muuuuito elegante… e delicada: para se processar a imagem, a retina consome MUITO oxigênio, e o que recebe é justinho! Assim, qualquer detalhe pode deixa-la com “falta de ar”.
Sem reserva
Pode-se dizer que as células visuais da mácula não têm reserva. E quando lhe falta o ar… aiaiai… ela
GRITA!!!!!!!
Aí o problema se instaura. O grito, para a retina, é aumentar a produção de uma substância danada chamada VEGF (vascular endothelial grow factor). Este pede, pelamordedeus, para formar mais vasos sanguíneos que carregam o oxigênio! E são poderosos!
Os “novos vasos”, formados às pressas, imaturos, chegam e tiram a transparência: mancham a imagem.
Neovasos
Daí a grande descoberta farmacológica dos últimos tempos, os anti-angiogênicos, ou as injeções intraoculares tão faladas por aí.
O anti-angiogênico ataca o VEGF e os neovasos regridem, devolvendo a transparência ao caminho da imagem até a retina.
Mas a história desta descoberta (e o que vem por aí) fica para outro episódio… Aguardem!
Streilein JW. Ocular immune privilege and the Faustian dilemma. The Proctor lecture. Invest Ophthalmol Vis Sci. 1996 Sep;37(10):1940-50. PMID: 8814133.
Campochiaro PA. Molecular pathogenesis of retinal and choroidal vascular diseases. Prog Retin Eye Res. 2015 Nov;49:67-81. doi: 10.1016/j.preteyeres.2015.06.002. Epub 2015 Jun 23. PMID: 26113211; PMCID: PMC4651818.