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Não olhe no espelho ou “faça a barba” depois de comer

As vovós acreditavam em derrames e paralisia do rosto.

 

Não faça careta no vento porque você pode ficar com o rosto torto

As avós acreditavam que a paralisia facial (‘à frigoli”) podia ser causada por uma rajada de vento frio

Ao contrário das “lendas urbanas” citadas acima, olhar no espelho ou fazer careta no frio não fazem entortar a boca ou o rosto. E nem sempre este é um sinal de derrame ou AVC (acidente vascular cerebral). 

E como diferenciar a paralisa facial periférica de um AVC? Inicialmente é importante saber que podemos classificar a paralisa facial como central ou seja resultado de algum acometimento do sistema nervoso centrar, um derrame por exemplo, ou periférica quando o problema está no nervo facial. 

A olhos nus, sabemos que nos casos periféricos há paralisa de toda a face de um dos lados, enquanto que nos casos centrais apenas da boca e as pálpebras, uma vez que a mobilidade da testa é poupada, além de na maioria das vezes estar acompanhada de fraqueza de membros, tontura, etc..

Deixemos de lado os casos centrais e vamos falar dos periféricos que são comuns, como o que recentemente acometeu o cantor americano Justin Bieber. 

O que é paralisia facial periférica?

A paralisia facial periférica, como já citado acima, decorre do acometimento do nervo facial. Este é o sétimo nervo craniano de 12, “nasce” no cérebro em um caprichoso espaço entre o cerebelo e a ponte; passa por dentro do ouvido junto com o nervo da audição que é o número 8 e exterioriza-se do crânio logo atrás do lóbulo da orelha para ineravdos músculos da face. 

Mas não é responsável apenas pela motricidade destes músculos. Ao longo de seu trajeto emite ramos que são responsáveis pela produção das lágrimas , saliva e acreditem.. por parte de nossa sensação gustativa ao inervar os 2/3 anteriores da língua.

Quais os sintomas da paralisia facial periférica?

Em geral o inicio é rápido quando se percebe que os músculos da face de um dos lados estão flácidos e a face parece caída do mesmo lado. A boa entorta para o lado contrário e a pálpebra não fecha. São comuns, então: 

  • dificuldade de fazer movimentos faciais
  • sorriso desviado para o outro lado
  • impossibilidade de fechar o olho
  • escape da saliva
  • pode ter dor perto da orelha a depender da causa
  • dor de cabeça
  • perda ou redução da gustação
  • ressecamento da saliva e das lágrimas

E as causas da paralisia facial? 

Olhar no espelho? Frio? Nada disso. 

  • Viroses

A mais comum das paralisias faciais é a Paralisa de Bell, apesar de sua causa não ser completamente elucidada, sugere-se que seja causada por vírus identificação (influenza, adenovírus, entre outros) e portanto como estes são mais comuns no inverno, associa-se ao frio. 

A Síndrome de Ramsay-Hunt é causada pelo vírus do Herpes-Zoster e esta além de ter a causa estabelecida  de possíveis pois além dos sinais já descritos acima há o aparecimento de vesículas/bolhinhas muito dolorosas típicas do herpes no conduto do ouvido podendo se estender a todo o pavilhão da orelha. 

  • Congênitas

Síndrome de Moebius, a paralisia facial está presente desde o nascimento e em geral é bilateral

Síndrome de Melkerson-Rosenthal, este quadro aparece na infância e em geral a paralisia é recorrente.

  • Outros
      • Infecções do orelha média. como otites
      • Fraturas do crânio/ osso temporal
      • Tumores faciais, do ouvido ou glândula parótida
      • tumores do neuro auditivo como neurinoma do acústico
      • Doença de Lyme  -doença bacteriana causada pelo carrapato

Sempre é necessário investigar a causa? 

Sim. 

A avaliação médica do otorrinolaringologista ou neurologista através do exame físico e complementares poderão determinar o  local exato do trajeto do nervo em que ele é acometido. Podem ser necessários, ainda exames de imagem como tomografia ou ressonância magnética assim como avaliação auditiva, já que há intima relação entre os nervos facial e auditivo.

Identificar assim sua causa possibilita direcionar para o melhor tratamento. O médico vai orientar ainda cuidados básicos durante a evolução do quadro como por exemplo proteger o olho. Uma vez que há limitação no piscar e fechar o olho faz-se mandatória a proteção da córnea com lubrificantes e pomadas. 

E o tratamento? 

A grande maioria das paralisias faciais, principalmente a Paralisa de Bell é reversível como já vimos acontecer com tantas celebridades que estampam a TV e o cinema como Angelina Jolie, Shaina Twain e os mais velhos vão lembrar do piloto Ayrton Senna. 

O acompanhamento médico é fundamental e o tratamento deve ser específico para a  causa identificada. 

Nas suspeitas de quadros virias podem ser usadas drogas antivirais, antiinflamatórios potentes como corticosteróides. Antibióticos no caso da Doença de Lyme causada por uma bactéria da família das Ricketizias. 

E até tratamento cirúrgico como no caso de tumores. 

Há ainda tratamentos complementares como reabilitação miofuncional acompanhado por fisioterapeutas ou fonoaudiólogos, aplicação de botox contra-lateral para equilibrar a assimetria dos movimentos faciais. 

A paralisa facial ainda pode estar associada a desconfortos psicológicos decorrentes com o descontentamento ou transformação da imagem pessoal que podem ser acompanhados. 

E lembrem-se os quadros são reversíveis na grande maioria das vezes e não deixam sequelas, mas precisam de acompanhamento médico especializado.

Para saber mais:

https://www.facialpalsy.org.uk/inform/what-is-facial-palsy/

Bell’s Palsy

Escrito por

Renata Di Francesco

Graduada em Medicina em 1993 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e especializada em Otorrinolaringologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP. Doutorado em 2001 e o título de Professora Livre-Docente foi obtido em 2010.
No dia a dia dedica, no consultório privado o cuidado com pacientes e familiares.
Ainda no Hospital das Clínicas da FMUSP, hoje, coordena o Estágio em Otorrinolaringologia Pediátrica.
Outros desafios:
Diretora da Educação Médica Continuada da ABORLCCF (2012-2014)
Presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (2015-2016)
Diretora Secretária da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia (2015),
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo-SPSP (2016-2019)
Coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento e Aprendizagem da SPSP (desde 2019)
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria -SBP (desde 2019).