uma pessoa de visão

“Quando você fica olhando para trás, não vê o que se tem pela frente”
Lulu, 6 anos

Início do ano para “uma pessoa de visão” é assim:
-paradinha
-eleva a cabeça
-projeta o olhar para além da visão, para o ano que temos pela frente, para o futuro

Uma das grandes mudanças propiciadas pelo isolamento durante a pandemia, foi a familiaridade necessária com a tecnologia. Deste modo, fomos obrigados a aprender a lidar com a internet para quaisquer atividades do cotidiano (e ainda bem que ela existe!). E então, foi tempo de quebrar muitas barreiras e preconceitos.
Definitivamente o espaço virtual, hoje, adentrou no espaço físico e funcional de todos nós.

E assim, novos conceitos se firmaram:

Realidade virtual, aumentada e imersiva

Realidade virtual: tenta reproduzir, através de mecanismos computacionais, o que existe no mundo real. Como uma escultura do órgão sadio ou doente. Assim, propicia seu melhor estudo inclusive para planejamento cirúrgico. Ou seja, bem importante na área do ensino e treinamento cirúrgico na oftalmologia: os simuladores.

Realidade aumentada: quando conseguimos sobrepor imagens virtuais sobre imagens reais. Ainda na cirurgia, conseguimos acrescentar imagens processadas pelo computador que melhoram a precisão do procedimento.

Realidade imersiva: o foco está no desenvolvimento do estímulo sensorial para que o usuário se sinta dentro do ambiente projetado: além da visão, estímulos de movimento, tato e força.

Teleconsultas

A oftalmologia tem uma barreira complicada: precisamos de aparelhos para enxergar o olho e suas alterações. Neste sentido, inúmeros aplicativos têm surgido para checar a visão e tirar fotografias das estruturas oculares, mas nenhum ainda tem eficácia comprovada. Ou seja, até o momento não dá para confiar nos seus resultados.

Para regiões carentes de serviços de oftalmologia, uma estratégia alternativa associa a teleoftalmologia aos serviços de atenção primária. Os consultórios remotos são conectados na internet, onde os exames são realizados pelo médico ou enfermeiro (acuidade visual, teste de refração, imagem do segmento anterior, exame de fundo de olho não dilatado e medição da pressão intraocular) e o oftalmologista, à distância, supervisiona e interage diretamente com o paciente e a equipe de enfermagem.

Tecnologia e a visão

Sempre me perguntam sobre os chips para substituir as células visuais da retina. Há pelo menos 20 anos, empolguei-me com este estudo dos pesquisadores da Johns Hopkins, em que uma filmadora captava a imagem e a processava em dados para um dispositivo que estimulava o nervo óptico. Entretanto, os dispositivos eram gigantes e aqueciam demais! A oftalmologia dependia do desenvolvimento tecnológico para aprimorar o sistema. E assim veio o Argus II para casos raros e avançados de retinose pigmentar, em que não se enxerga mais luz.

A tecnologia permitiu avanços não cirúrgicos e mais abrangentes para promover reabilitação e a acessibilidade para deficientes visuais com a inteligência artificial, realidade aumentada, internet das coisas e cidades inteligentes. Um exemplo sensacional é o OrCam My Eye, que permite a leitura de textos, reconhecimento facial, objetos, codigos de barra, e vocalização por síntese de voz:

Voltando…

Se nada mais tecnológico pode ser uma novidade hoje em dia, uma “pessoa de visão” talvez seja aquela que não mais procura o que está láaaaa na frente, mas o que está justo ao nosso lado, no entorno, nos detalhes das pequenas diferenças e assim permitir que façam parte do nosso espaço, aí sim, cada vez maior!!!

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Escrito por

Cassia Suzuki

Médica oftalmologista, quase filósofa, mãe de 2 filhas e 2 cachorrinhas