liberdade de escolha juntos

Você é livre para fazer suas escolhas. Mas é prisioneiro das consequências.
Pablo Neruda

Estamos num momento em que parece que somos reféns das escolhas que fazemos: a consequência é adiantada e julgada antes mesmo que a tenhamos sofrido. Ou seja:

Vacina? Não vacina? Usa máscara? Não usa?

Não acredito!

Se não vacina ou não usa máscara, lá vem o dedo na cara: “Você será responsável por passar o vírus para seus entes queridos!”

Se não acredita na eficácia da vacina com seus efeitos colaterais, ou que a máscara bloqueia a passagem do vírus, sente-se coagido a se vacinar ou usar máscara mesmo sentindo falta de ar para evitar o olhar-dedo na cara: “Que ditadura é essa do politicamente correto? Mas cadê, nesta suposta democracia, a liberdade de escolha?!?!?!”

Quero vacina no braço e uso máscara indefinidamente!

Por outro lado, está mega comprovado que a vacina funciona sim (de fato, a maioria dos casos graves de covid, agora, são naqueles que não se vacinaram). E as máscaras, idem! Neste sentido, para diminuir a circulação do vírus e sua chance de sobrevivência, o ideal seria que todos usassem máscara e que todos se vacinassem. Aqueles que não o fazem, contribuem para persistência da pandemia.

“Como tem gente que não enxerga isso? Será que falta informação? Ou falta conhecimento?”

Viver em sociedade

Neste período de pandemia, talvez a maior constatação (salvo exceções!) é de que é MUITO COMPLICADO viver isolado do mundo exterior. A sensação de solidão não é fácil. Fomos feitos para nos relacionarmos, é a característica da espécie humana: viver em grupo.

Deste modo, embora muuuuuito difícil em situações emergenciais como a atual, cabe-nos um mega esforço para entender a Fé (ou a falta dela) do outro: seja qual for (e a Ciência aqui se inclui). Afinal, como disse Heather Templeton Dill sobre Marcelo Gleiser, físico brasileiro, na ocasião do recebimento do Prêmio Templeton:

“…ciência, filosofia e espiritualidade são expressões complementares da necessidade da humanidade de abraçar o mistério e explorar o desconhecido”

Solidariedade

Esta “solidariedade” pela crença do outro pode ser o início de um looooongo caminho de sabedoria e conhecimento pela essência do outro que, no final, é a nossa mesmo: universal, como espécie inserida no mundo.

Solidariedade conosco e com o outro pode nos permitir uma liberdade irrestrita de explorar e abraçar o mistério do desconhecido e, no fim, da essência das coisas, sem nos deixar perder pelas informações soltas pela nuvem a ponto de nos paralisar sozinhos ou em tribos.

Pandemia

Como médica, não há como não pensar na doença em seus termos técnicos: como o vírus entra em nós, quais são seus passos, as lesões no corpo (e na alma), como evitá-lo, como combatê-lo e como reparar seus danos. O olhar da medicina está voltado sim nas probabilidades, em quantificar os riscos e benefícios (cientificamente comprovado) de todo o processo.

Diante disso, não há como negar: só venceremos esta batalha impedindo a sobrevivência do vírus, ou seja, mantendo-o distante do nosso corpo com o uso das máscaras e com as vacinas que nos ajudam a matá-lo antes de se reproduzir. Um ou outro não adianta. Um país ou outro não adianta. Precisam ser todos!

Embora a desconfiança exista desde os tempos da varíola (Da varíola à covid-19, a história dos movimentos antivacina pelo mundo), as vacinas que temos são seguras. Ou seja, se tudo der errado (pegar a covid, ter todos os efeitos colaterais da vacina), ainda vale mais a pena do que manter viva essa face mortal da doença.

Ainda, como médica, estaremos por aqui, sempre fazendo o melhor possível por qualquer um, independente de crenças tanto do outro quanto das minhas.

É o nosso papel. Pensar no ser humano, independente de nossa posição pessoal.

É o que se espera de qualquer figura pública que se preocupa, de fato, com a população.

 

Chalmers, AF: O Que é a Ciência Afinal? Ed. Brasiliense

 

Escrito por

Cassia Suzuki

Médica oftalmologista, quase filósofa, mãe de 2 filhas e 2 cachorrinhas