Caiu na folia, oi aos bloquinhos, assistiu os desfile das escolas de samba, ou quem sabe foi atrás do trio elétrico. 

E assim é alegria do Carnaval, a grande festa tão badalada aqui no Brasil. 

Mas e agora percebe uma sensação de que tem um apito nos ouvidos.

Seria um zumbido? O que aconteceu?

Quem nunca sentiu que estava com um zumbido não só no Carnaval, mas também após um show, concerto de rock, festa de casamento.

E o que é esta sensação de apito? 

A esta sensação de uma apito nos ouvidos chamamos de zumbido.

Com a  exposição prolongada a sons intensos, as células ciliadas, pequenas células nervosas da parte mais interna do nosso ouvido, sofrem mudanças metabólicas e mecânicas que podem levar a perda auditiva. Geralmente, ao sair de uma festa, não é apenas o zumbido, que notamos, mas também uma leve perda auditiva, geralmente temporária. O zumbido temporário causado pela exposição a sons elevados dura em média 16 a 48 horas.

Quando o zumbido não melhora é sinal que pode ter ocorrido uma lesão permanente, denominada de Perda auditiva induzida por ruído. 

Mas vale o alerta, este zumbido pode ser um sinal de que seu sistema auditivo pode ter sido lesado!

As células ciliadas são as grandes responsáveis pela transformação da vibração do som em impulsos elétricos que são conduzidos ao cérebro para o reconhecimento e interpretação do som. Como são células nervosas ultraespecializadas, não se regeneram quando lesadas.

Todo zumbido vem da exposição ao ruído? 

O zumbido, ou como disse anteriormente, a sensação de que há uma sirene nos ouvidos, é apenas um sintoma. Várias condições auditivas além da exposição ao barulho podem apresentá-lo, tais como condições metabólicas, surdez parcial ou total, uso de remédios ototóxicos e até tumores do nervo auditivo. 

Quanto é um som alto?

Os sons do Carnaval estão em torno de 100 dB, assim como de um concerto de rock. Para se ter uma ideia, é uma intensidade semelhante a um cortador de grama!

Não importa se o som é agradável ou desconfortável, o que importa a intensidade e o tempo de exposição. 

Até 80 dB (dB= decibel, medida de intensidade sonora) sabe-se que é baixo o risco de lesão auditiva é baixo, permitindo-se uma exposição de cerca de 8 horas. Entretanto, não se trata de uma escala linear e a exposição a 100 dB, só é segura por cerca de 7 a 10 minutos!!!

Mas e outros sons? Podem prejudicar os ouvidos?

Estamos expostos a sons, desde que nascemos.  Muitos de nós moramos em cidades barulhentas, e no dia a dia já nos expomos a ruídos.  Os efeitos da exposição a ruído, é acumulativa e portanto, devemos prestar atenção não apenas ao som do Carnaval, mas a todos os sons: o trânsito, o liquidificador, brinquedos barulhentos sem certificação, uso de fones de ouvido, etc. 

É comum a perda auditiva induzida por ruído? 

Quando se fala em perda auditiva por ruído, pensa-se sempre no trabalhador da fabrica. Mas agora, você já sabe que até situações de lazer podem se lesivas.  Cerca de 25% da população adulta nos EUA, de 20 a 69 anos apresenta alguma evidencia de lesão auditiva por ruído,  e dentre estes, 19% são relacionadas a situações não laborais, ou seja de fora do trabalho. E portanto, em grande parte, atividades de lazer. E por aqui, não deve ser muito diferente. 

Este tipo de perda auditiva aumenta ainda mais o risco de perda auditiva do idoso, a presbiacusia, que sabemos ser não apenas limitante para a comunicação, mas também ligada a perda da memória e Alzheimer, além de outras demências

Proteja seus ouvidos!

Em  2022 a OMS , Organização Mundial da Saúde, determinou em uma diretriz global que a intensidade sonora em locais de eventos/shows não deveria ultrapassar 100 dB por um período de 15 minutos.  Destacando que a limitação é necessária a fim de permitir a expressão artística e musical, e o prazer da música amplificada sem perigo  para os ouvidos. 

Assim, evite locais ruidosos, não use fones de ouvido em alto volume!!

A música é um prazer para nossos ouvidos e devemos poder usufruir por um longo tempo.

Saiba mais com a OMS,https://www.who.int/activities/making-listening-safe,  o CDC (Centro de Controle de Doenças dos EUA) (https://www.cdc.gov/nceh/hearing_loss/toolkit) e outras organizações:http://dangerousdecibels.org/,  https://hearinghealthfoundation.org/keeplistening). 

Referências: 

Eichwald J, Themann CL, Scinicariello F. Safe Listening at Venues and Events with Amplified Music – United States, 2022. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2023 Mar 31;72(13):338-341. doi: 10.15585/mmwr.mm7213a3. PMID: 36995965; PMCID: PMC10078844.

keppler H, Dhooge I, Vinck B. Hearing in young adults. Part II: The effects of recreational noise exposure. Noise Health. 2015 Sep-Oct;17(78):245-52. doi: 10.4103/1463-1741.165026. PMID: 26356366; PMCID: PMC4900507.

Monteiro VM et al Estudo da audição de ritmistas de uma escola de samba de São PauloRev. soc. bras. fonoaudiol. 2010: 15 (1)https://doi.org/10.1590/S1516-80342010000100005

Escrito por

Renata Di Francesco

Graduada em Medicina em 1993 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e especializada em Otorrinolaringologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP. Doutorado em 2001 e o título de Professora Livre-Docente foi obtido em 2010.
No dia a dia dedica, no consultório privado o cuidado com pacientes e familiares.
Ainda no Hospital das Clínicas da FMUSP, hoje, coordena o Estágio em Otorrinolaringologia Pediátrica.
Outros desafios:
Diretora da Educação Médica Continuada da ABORLCCF (2012-2014)
Presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (2015-2016)
Diretora Secretária da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia (2015),
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo-SPSP (2016-2019)
Coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento e Aprendizagem da SPSP (desde 2019)
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria -SBP (desde 2019).