queima de fogos de artificio

Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo…

… e assim nos despedimos de 2021 com o coração pleno de pedidos e esperanças para que 2022 seja um ano repleto de novas alegrias.

É na noite da virada, o Reveillon, que refletimos sobre o que passou e o que desejamos. Igualmente acompanhados de inúmeros rituais de sorte para o Ano Novo.

Dessa forma, neste dia, o céu brilha com a admirável e tradicional queima de fogos em diversos pontos do globo terrestre.

A princípio, fogos de artifício foram inventados na antiguidade pelos chineses e está na tradição de muitos povos para espantar os maus espíritos.

Mas é verdade que amamos este espetáculo; nossas almas enchem-se de esplendor enquanto admiramos a explosão dos fogos disparados como cometas espalhando-se pelo céu em faíscas atraentes.

Sempre sentimos alguma excitação ao ver um show pirotécnico. De acordo com Daniel Glaser, neurocientista e diretor do Science Gallery London at King’s College no Reino Unido, há um outro motivo: a sensação oculta do medo.

Ele explica que as as faíscas súbitas e brilhantes são atraentes aos nossos olhos, mas que o suspense criado entre a luz e o som de sua explosão é excitante, pois trata-se de um medo controlado. Este fenômeno ativa a amígdala, parte do sistema nervoso central que detecta o medo e depois do barulho há grande liberação de dopamina, o neurotransmissor do prazer.

Ao mesmo tempo será que pode haver um paralelo com o ano vindouro e nossas expectativas?

O perigo dos fogos de artifício

Excitação à parte, fato é que os fogos de artificio representam também um perigo real.

A associação americana de pirotécnicos ressalta que por conta pandemia de Covid e simultaneamente à redução das grandes celebrações, houve um importante incremento do consumo de fogos de artificio para uso doméstico em 2020, o que pode gerar sérios problemas. A manipulação de fogos não é para amadores.

O plantão no primeiro dia do ano é bem conhecido pelos médicos da emergência pelas lesões provocadas por estes fogos e que acometem principalmente a cabeça e o pescoço.

O uso doméstico gera diversos acidentes; tais como queimadoras e traumas penetrantes que correspondem a 44,6 e 21,1% do total, respectivamente. Mas como otorrinolaringologista venho salientar um trauma menos aparente mas potencialmente grave e permanente que são as lesões do ouvido.

Os traumas do ouvido correspondem a 15,2%. E são os sintomas principais a dor de ouvido, perda auditiva, zumbido, perfuração da membrana timpânica. Os danos permanentes são perda auditiva e zumbidos permanentes além da perfuração da membrana timpânica, com as potenciais consequências de ouvir menos que já discutimos em outro artigo.

O que é trauma acústico?

A queima dos explosivos liberam gás quente que se expande rapidamente causando deslocamento de ar sob pressão. As vibrações da explosão acometem o ouvido e podem causar desde a ruptura do tímpano e a desconexão da cadeia dos pequenos ossículos do ouvido até a lesão permanente das células nervosas do ouvido, as células ciliadas. As crianças estão ainda mais propensas a estes fenômenos pois a abertura do ouvido é mais estreita o que potencializa o efeito das vibrações.

O som da explosão dos fogos de artifício podem chegar a 150 a 175 dB semelhante ao decolar de um jato, ruído de intensidade altamente lesivo para o ouvido.

Proteja-se e apenas encante-se com o espetáculo

Em síntese, uso de fogos de artifício deve seguir normas de segurança rigorosas. E devemos sempre usar medidas de proteção:

  • Fogos devem ser preparados e acionados por profissionais
  • Fique sempre a uns 150 metros de distância do local de explosão dos fogos
  • Use protetores auditivos

Curta sua noite de Reveillon em segurança e que tenhamos um excepcional 2022!!!

 

Referências:

Straughan AJ, Pasick LJ, Gupta V, Benito DA, Goodman JF, Zapanta PE. Feel the Burn! Fireworks-related Otolaryngologic Trauma. Ann Otol Rhinol Laryngol. 2021; 130(12):1369-1377.

van de Weyer PS, Praetorius M, Tisch M. Update: Knall- und Explosionstraumata [Update: blast and explosion trauma]. HNO. 2011;59(8):811-8.

https://www.americanpyro.com/assets/docs/FactsandFigures/Fireworks%20Consump.%20Figures%202000-2020.pdf

https://www.healthyhearing.com/report/52478-How-to-protect-your-hearing-this-fourth-of-july

https://www.cdc.gov/nceh/hearing_loss/toolkit/firework_safety.html

Escrito por

Renata Di Francesco

Graduada em Medicina em 1993 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e especializada em Otorrinolaringologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP. Doutorado em 2001 e o título de Professora Livre-Docente foi obtido em 2010.
No dia a dia dedica, no consultório privado o cuidado com pacientes e familiares.
Ainda no Hospital das Clínicas da FMUSP, hoje, coordena o Estágio em Otorrinolaringologia Pediátrica.
Outros desafios:
Diretora da Educação Médica Continuada da ABORLCCF (2012-2014)
Presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (2015-2016)
Diretora Secretária da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia (2015),
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo-SPSP (2016-2019)
Coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento e Aprendizagem da SPSP (desde 2019)
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria -SBP (desde 2019).