Nos últimos dias, o mundo registrou mais de 2,5 milhões de novos casos diários de covid-19. Já são mais de 13 milhões de infecções novas nos últimos 7 dias, a maioria causada pela nova variante ômicron.

Em 25 de novembro de 2021, cerca de 23 meses após o relato do primeiro caso de covid-19 e com uma estimativa global de 260 milhões de casos e 5,2 milhões de mortes, uma nova variante, a ômicron, foi descrita. De novembro a janeiro, os casos saltaram para 296 milhões.

A ômicron tem cerca de 50 mutações que a diferenciam da cepa original, 32 delas na proteína S, “spike” ou espícula, justamente o foco da maioria das vacinas.

Assim como as variantes anteriores, a explosão de casos de covid-19 causada pela ômicron também está gerando hospitalizações e mortes no mundo todo.

Ômicron e transmissão

O primeiro sequenciamento da ômicron foi relatado em Botswana, em 11 de novembro de 2021. Depois deste caso, vários sequenciamentos se seguiram na África do Sul, comprovando a nova variante.

As principais preocupações sobre a ômicron incluem sua maior transmissão e a sua capacidade de provocar doença grave. Até o momento, sabe-se que sua capacidade de transmissão é maior: há indícios de que a ômicron pode se replicar até 70 vezes mais rápido nas vias aéreas do que a delta. Em média, uma pessoa com a ômicron pode transmitir a doença para 6 a 10 pessoas. Como comparação, uma pessoa com sarampo, até hoje o vírus mais contagioso, é capaz de transmitir a doença para 12 a 18 pessoas.

Segundo a OMS, o número de casos globais aumentou em 71% na última semana. Por ser altamente contagiosa, pode infectar mais pessoas e, apesar de parecer menos grave do que a delta, o número recorde de infectados vem sobrecarregando os sistemas de saúde.

No Brasil, uma análise feita pelo Instituto Todos pela Saúde, em parceria com os laboratórios DASA e DB Molecular, aponta que a nova variante prevaleceu em 92,6% das amostras analisadas no território nacional.

Já a plataforma vinculada à Universidade de Oxford, a Our World in Data, mostra que a ômicron já é dominante no país, sendo responsável por 58,33% dos casos de covid-19 sequenciados. A média móvel de infecções no Brasil subiu 477% em relação a 14 dias atrás.

Deve-se frisar que a análise da cepa não é exame que se possa solicitar ao laboratório.

A ômicron pode escapar do sistema imunológico?

O potencial para reinfecção com a ômicron existe e é embasado por achados preliminares de vários laboratórios. Porém, o possível escape da imunidade mediada por anticorpos não significa escape da imunidade mediada por células.

É a imunidade celular que deixa a infecção pela ômicron mais leve, enquanto a imunidade mediada por anticorpos impede a infecção.

Gravidade de doença

Estudos sugerem que esta variante tem maior dificuldade de entrar nas células pulmonares, o que poderia explicar, em parte, a menor gravidade dos casos. Além disso, a variante tem encontrado uma parcela grande da população vacinada já com o reforço, o que também explica evolução mais favorável.

Ainda é precoce dizer que a variante ômicron causa doença mais ou menos grave. O que se sabe é que pode causar todo o espectro: desde infecção assintomática até doença fatal. Mesmo que seja menos letal, o vírus pode afetar as populações vulneráveis (idosos, portadores de doença crônica, por exemplo). Além disso, pela alta transmissão, o alto número de casos pode sebrecarregar os sistemas de saúde.

Ômicron e as vacinas

Apesar da explosão no número de casos, o número de mortes no mundo ainda segue em queda.


Cerca de 4 bilhões de pessoas estão com a imunização completa. Porém, há disparidade entre vacinados no mundo.
Países pobres estão com a vacinação atrasada, por falta de imunizantes e por campanhas enfraquecidas, como a Etiópia, com apenas 1,4% de sua população completamente vacinada, e o Sudão, com somente 2,8% da população com esquema vacinal completo.

Países ricos, em contrapartida, enfrentam resistência à vacina por uma parcela significativa da população. Desigualdade na vacinação entre países mais pobres e mais ricos é um dos fatores fundamentais para entender o surgimento de novas variantes. Até que vacinemos um número suficiente de pessoas, vamos permitir que isto aconteça repetidamente.

Deste modo, é importante ressaltar que novos estudos continuam demonstrando eficácia das vacinas para a prevenção de casos graves, internações e mortes, mesmo com a nova variante. De fato, as variantes reforçam a importância das vacinas aliadas às medidas de saúde pública de prevenção, como o uso adequado de máscaras faciais.

Vacinação de crianças e adolescentes

É importante vacinar as crianças e adolescentes tanto para evitar que adoeçam como para evitar que se tornem reservatório de vírus. Por enquanto, no Brasil a única vacina aprovada pela ANVISA é a da Pfizer.

Covid-19 em crianças e adolescentes pode ser grave?

Embora a ocorrência de covid-19 seja menos prevalente em crianças e adolescentes, existe a possibilidade de evolução desfavorável, principalmente em grupos específicos como os portadores de cardiopatias congênitas ou adquiridas.

Entre as hospitalizações por covid-19 no Brasil, houve um total de 34 mil crianças e adolescentes internados, com mais de 2.500 mortes pela covid-19 neste grupo. Crianças maiores de cinco anos e adolescentes representaram aproximadamente 50% destas mortes. Entre as crianças e adolescentes hospitalizados por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por covid-19, a mortalidade foi de 7%.

Além da SRAG causada pela covid-19, até o dia 27 de novembro de 2021, houve no país 1412 casos confirmados da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), outra apresentação clínica grave da covid-19, descrita em crianças e adolescentes, levando a 85 mortes. É esta apresentação da covid-19 que leva a miocardite grave e com sequelas em 51 a 90% dos pacientes pediátricos!

E a vacinação? É segura?

A vacinação de adolescentes e adultos jovens com as vacinas de mRNA demonstraram risco muito baixo de miocardite e pericardite, sendo este estimado em 4,2 casos de miocardite ou pericardite para cada 100.000 vacinados com 12 a 29 anos de idade.

Apesar de ser uma complicação que ocorre com maior frequência após a 2a dose da vacina, a evolução dos casos de miocardite e pericardite pós-vacina tem sido benigna em todos os casos, havendo recuperação total em cerca de 1 semana, sem relatos de complicações mais graves até o momento.

No que se refere à população de crianças de 5 a 11 anos, os dados publicados pelo CDC americano mostram que, até o dia 9 de dezembro de 2021, já haviam sido aplicadas cerca de 7,1 milhões de doses da vacina da Pfizer nessa faixa etária. Até o momento, foram relatados apenas 14 casos suspeitos de miocardite ou pericardite, o que representa uma taxa de apenas 1 caso de miocardite ou pericardite a cada 100.000 vacinados com a segunda dose, sendo esta taxa bem menor do que aquela observada nos adolescentes.

A importância das doses de reforço

Dados indicam que apenas duas doses da vacina da Pfizer ou da AstraZeneca ofereceram proteção limitada contra a ômicron. No entanto, a proteção foi restabelecida com a dose de reforço, conforme evidenciado em novos estudos, para várias vacinas, como as da Pfizer, da AstraZeneca, da Novavax, da Moderna e da Jansen, inclusive para pacientes com câncer.

As vacinas induzem tanto resposta imunológica por anticorpos, que ajudam a prevenir a doença, bem como imunidade celular, que previne gravidade e morte.

Vale lembrar que as vacinas sempre tiveram um componente social: quem toma se protege e protege o outro. Portanto, quanto mais gente protegida, tanto menor a chance do vírus circular.

O uso de máscaras de proteção

As máscaras são necessárias em ambientes internos e externos se não houver distância segura.

A variante ômicron tem o mesmo tamanho que as demais e se transmite da mesma maneira. No entanto, por ser mais transmissível, o melhor é utilizar máscaras mais eficientes, como a N95 e a PFF2, ou a equivalente KN95. Caso nenhuma delas esteja acessível, a recomendação é usar máscara cirúrgica embaixo da de pano dupla ou tripla.

Porém, em ambientes fechados e com muita gente, o melhor mesmo é usar a PFF2.

Máscaras faciais contra a covid
Máscaras contra a covid-19

Tive contato com uma pessoa que testou positivo. O que fazer?

Se entrou em contato com alguém que testou positivo, a primeira medida é isolar-se em casa, inclusive dos familiares, em quartos separados e, se isto não for possível, mantenha distância de no mínimo um metro, em espaços ventilados e usando máscara o tempo todo. A OMS recomenda a quarentena por 14 dias caso não surjam sintomas.

Já o Centro de Controle de Doenças americano (CDC) recomenda um período de 5 dias de quarentena seguidos de mais 5 dias de uso imperativo de máscaras para os não vacinados ou para aqueles que tomaram a vacina de mRNA há mais de 6 meses ou Jansen há mais de 2 meses e ainda não tomaram reforço. Para os que receberam reforço, a recomendação é de manter a máscara por 10 dias. Para todos os expostos, recomendam também realizar o teste para covid-19 no 5º dia após a exposição ao coronavírus.

Testei positivo. E agora?

De acordo com as novas recomendações do CDC americano. o isolamento pode ser por 5 dias para assintomáticos ou sintomáticos que melhoram completamente em 5 dias, com uso de máscara obrigatório por mais 5 dias. Porém, se a febre persistir, o isolamento deverá acontecer até que a febre se resolva. No Brasil, por enquanto, mantém-se o isolamento durante 10 a 14 dias. Não deixe de comunicar o seu médico se testar positivo e relate seus sintomas!

“A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”

Franz Kafka

Referências:

https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/media-resources/science-in-5/episode-63—omicron-variant
https://ourworldindata.org/

https://www.cell.com/action/showPdf?pii=S1535-6108%2821%2900688-7

https://www.cdc.gov/media/releases/2021/s1227-isolation-quarantine-guidance.html

Relvas-Brandt L, Gava C, Camelo FS, et al. Síndrome inflamatória multissistêmica pedi- átrica: estudo seccional dos casos e fatores associados aos óbitos durante a pandemia de COVID-19 no Brasil, 2020. Epidemiol Ser Saúde. 2021;30:4:e2021267