Em tempos de pandemia, as máscaras de proteção contra a covid-19 são amplamente recomendadas em lugares públicos, reuniões e em qualquer lugar com concentração de pessoas, já que a transmissão da doença ocorre por inalação de gotículas de saliva e de secreção respiratória suspensas no ar. Assim, as máscaras são também obrigatórias em aviões, ônibus, trens, metrôs e em qualquer outra forma de transporte coletivo.

Um pouco de história das máscaras de proteção

Segundo Christos Lynteris, professor do Departamento de Antropologia da Universidade de St. Andrews (Escócia), especialista em história das máscaras médicas, algumas pinturas renascentistas (1300 a 1600 d.C.) já mostravam pessoas cobrindo o nariz com lenços para evitar doenças.

Há, ainda, pinturas de 1720 em Marselha, que foi o epicentro da peste bubônica, mostrando pessoas com lenços e tecidos em volta da boca e do nariz, embora a peste seja transmitida pela picada de pulgas que infestam ratos. Havia a crença que miasmas ou gases que emanavam do solo causassem doenças.

Na década de 1870, os cientistas aprenderam sobre as bactérias e, no final do século XIX, um bacteriologista alemão chamado Carl Flügge, descobriu que havia bactérias nas gotículas exaladas pelo nariz e pela boca. Assim, as primeiras máscaras cirúrgicas foram usadas em 1897 e não tinham função de filtro: serviam para prevenir que gotículas da boca e do nariz do médico caíssem na ferida cirúrgica.

Máscaras de bico

Quais são os tipos de máscaras?

  • PFF2/N95:

    É uma máscara com capacidade de filtro maior do que as máscaras cirúrgicas. Cobre a boca e o nariz, vedando bem o rosto. Assim, além de filtrar as gotículas, retendo as partículas por ação eletrostática, impede que aerossóis, contendo o vírus, entrem em contato com o usuário pelo espaço entre nariz e olhos. Nunca deve ser lavada nem higienizada com álcool ou outros produtos. Também não deve ter válvula, já que esta permite a saída do ar e pode contaminar o ambiente caso o usuário esteja doente.
    Pode ser reaproveitada, desde que fique descansando em ar ambiente por 3 a 7 dias. Deve ser descartada se estiver rasgada ou com aspecto envelhecido ou após 15 dias de uso.
    As máscaras KN95, similares a N95, são fabricadas em várias diferentes indústrias e têm controle de qualidade heterogêneo. Assim, a ANVISA publicou uma lista de marcas reprovadas. Confira aqui: Respirador particulado apresenta falha na filtragem — Português (Brasil)

  • Máscara cirúrgica:

    Além de ter boa filtragem, permite respirar facilmente e tem o clipe nasal para melhorar o ajuste ao rosto. Com troca a cada 4 horas, é ideal para locais abertos e arejados. Falhas no ajuste podem permitir a contaminação por aerossóis.

  • Máscara de TNT: 

    Oferece boa proteção, principalmente se for de TNT mais uniforme e de 3 camadas. É geralmente branca e possui de 1 a 3 camadas de TNT.

  • Máscara de tecido: 

    É a mais comum e a mais frequentemente fabricada. É barata e reutilizável, mas varia no tipo de tecido, no número de camadas e no tipo de costura. Apesar de alguns países europeus passarem a exigir o uso de máscaras profissionais, a OMS e a ANVISA mantêm sua indicação.

    • máscaras com duas ou três camadas de algodão protegem melhor do que as de camada única.
    • máscaras com costura no meio são menos eficientes. A máquina de costura faz furos na máscara o que permite a passagem do vírus.
    • a costura industrial, por solda, é mais eficiente.
    • máscaras de pano com clipe nasal têm melhor ajuste.
    • tecidos mais grossos em geral são piores por permitirem maior espaço entre as fibras.
    • as máscaras de tecido frouxo, que deixam passar luz, são menos eficientes.
    • máscaras de neoprene têm boa filtragem mas esquentam o rosto e são menos respiráveis.
N95 (Imagem: Circ OD de Pixabay)

Eficiência das máscaras de proteção

No Brasil, um recente estudo conduzido pelo Instituto de Física da USP avaliou a eficiência e a respirabilidade de 227 modelos de máscaras vendidos no país. Os resultados foram os seguintes:

  • PFF2/N95: profissionais e certificadas, conseguiram filtrar entre 90-98% das partículas de aerossol. Protege quem usa e os outros.
  • TNT: vendidas em farmácia, sua eficiência variou de 80 a 90%.
  • Tecido: inclui modelos feitos de algodão e com material sintético, como microfibra e Lycra. A eficiência variou de 15 a 70%, com média de 40%. A presença de clipe nasal, o tipo de costura, o número de camadas, bem como o material utilizado influem na eficiência das máscaras. De outro modo, com a lavagem, há desgaste do material e piora progressiva na capacidade de filtragem.

Um estudo americano mostrou que a eficiência da máscara cirúrgica colocada embaixo de uma máscara de pano chega a 90% pois melhora seu ajuste ao rosto.

estudo usp - USP/BBC News Brasil - USP/BBC News Brasil

Atenção: “face shields” não substituem as máscaras de proteção!

Respirabilidade

As máscaras devem ser confortáveis o bastante para que não sejam manipuladas nem retiradas.

Por isso, máscaras de 4 ou 5 camadas ou as de neoprene podem ser extremamente desconfortáveis apesar da excelente filtragem.

As máscaras de TNT e de algodão de 2 camadas foram as melhores neste quesito.

Exercícios físicos e máscaras de proteção

As máscaras de tecido de três camadas, de TNT ou cirúrgicas não fazem mal à saúde durante o exercício e nem prejudicam o desempenho. São incapazes de reter gás carbônico ou de aumentar o trabalho respiratório.

As máscaras N95 ou PFF2, embora mais eficientes para a proteção, podem aumentar o trabalho respiratório durante um exercício vigoroso.

Deste modo, a recomendação é para limitar exercícios de alta intensidade a ambientes externos e sem aglomeração de pessoas, para que possam ser feitos sem máscara ou com máscara de menor proteção. Nas atividades internas, o uso é obrigatório.

Indivíduos com asma, DPOC ou problemas cardíacos devem ser avaliados antes de praticar exercícios com máscara.

Situações especiais

Barba: Certos tipos de pelos faciais, como a barba, podem dificultar o ajuste de máscaras de proteção. Se possível, aparar a barba rente à pele ou usar uma máscara descartável embaixo de uma de tecido com múltiplas camadas. Assim, a segunda máscara aperta a descartável contra a barba, melhorando o ajuste.

Para aqueles com barba comprida, as máscaras faciais não se ajustam muito bem. Mesmo assim, devem usar.

Atualmente, máscaras desenhadas para pessoas com barba estão sendo estudadas.

Crianças abaixo de 2 anos: não devem usar máscaras.

Crianças de até 5 anos: As PFF2 não se ajustam bem. Máscaras de tecido de 3 camadas, sem costura frontal e com elásticos atrás da cabeça ficam bem ajustadas. O uso combinado com uma cirúrgica por baixo e uma de tecido por cima ajuda a filtrar e a vedar melhor.

 

Como usar as máscaras de proteção

Ao colocar: higienize as mãos antes de tocar na máscara. Passe um elástico por vez. Ajuste o clipe nasal e teste se não há vazamentos de ar. Não toque a máscara enquanto estiver em uso.

Ao retirar: higienize as mãos e não toque a parte da frente da máscara. Retire um elástico de cada vez. Pendure a máscara para deixar arejando e higienize as mãos.

Máscaras de tecido devem ser lavadas diariamente e sempre que estiverem sujas.

Se a máscara estiver suja ou úmida, acondicione em saco plástico e lave assim que possível. Máscaras limpas podem ser guardadas em sacos de papel.

Lembre-se: quanto maior o risco, melhor deve ser a máscara.
Use por você e use pelo próximo!

 

Referências:

COVID-19: Considerations for Wearing Masks | CDC

Filtration efficiency of a large set of COVID-19 face masks commonly used in Brazil: Aerosol Science and Technology: Vol 0, No 0 (tandfonline.com)

(respire! – INOVA.USP