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Meditação tem influência na saúde?

Você acredita que meditação á apenas uma forma de conseguir a paz interior? Pois saiba que seus efeitos podem ir além e ainda influenciar sua saúde.

Origens da meditação:

A mais antiga evidência de prática da meditação foi encontrada em imagens artísticas, aproximadamente entre 5000 e 3500 anos a. C.,  contudo a evidência escrita aparece em Vedas apenas por volta  de 1500 a.C.

Apesar de mais associada a filosofias orientais como budismo e hinduísmo, há também referências no cristianismo, judaísmo, bem como  islamismo.  A meditação  espalhou-se por toda a Ásia durante os séculos V e VI a.C., através dos caminhos da seda e em cada lugar foi se transformando para se encaixar a cada nova cultura.

Posteriormente, no século XX ultrapassou os limites religiosos e difundiu-se no Ocidente com adaptações em diversos tipos de práticas laicas.

Atualmente, há várias técnicas de meditação, sendo as mais populares: mindfulness (atenção plena), meditação espiritual, meditação transcendental, meditação em movimento, loving-kindness (bondade/gentileza), yoga, zazen, etc.

Estas práticas podem, por exemplo, aumentar concentração, melhorar o conhecimento presente, promover relaxamento, reduzir stress, melhorar a mente, aumentar a felicidade, etc.

A meditação e o cérebro

A meditação vem sendo um tema muito estudado nos últimos 20 anos. Desde que os estudos incluíram o uso de eletroencefalograma, ressonância magnética e ressonância magnética funcional, os cientistas encontraram efeitos da meditação no cérebro.

De acordo com estas pesquisas, o cérebro sofre modificações em sua estrutura e, através da plasticidade neuronal, a meditação leva a formação de novas conexões neuronais bem como de novos circuitos cerebrais.

Estudos neuropsicológicos e neuro-anatômicos sugerem que a meditação pode ter consequências benéficas tanto no estado fisiológico basal assim como na resposta fisiológica.

 

Há benefícios diretos para a saúde?

Você não pode tocar o stress, mas pode sentir os seus efeitos no corpo e na mente. Mesmo que por um curto período, ele é capaz de elevar frequência cardíaca, a frequência respiratória e a pressão arterial sistêmica. Do mesmo modo, o stress crônico resulta frequentemente em variações autonômicas  que podem gerar tanto situações psicológicas adversas quanto problemas cardiovasculares.

É bastante conhecido que um parte dos problemas de saúde são relacionados ao stress. Uma pesquisa demonstrou que pessoas que praticaram relaxamento e meditação reduziram em 43% a necessidade de visitas em serviços de emergência em relação ao ano anterior, quando ainda não os praticavam.

 

 

  • Ansiedade/Depressão:

A meditação pode contribuir para melhora do stress psicológico  sendo utilizada como adjuvante no tratamento da ansiedade e depressão.

  • Doenças cardiovasculares:

Como já foi dito anteriormente, a frequência cardíaca e pressão arterial elevam-se frente a situações de stress.
A meditação é capaz de produzir uma conexão entre corpo e mente.  Nesse sentido pesquisas recentes sugerem seu  potencial na autorregulação do corpo humano e seus benefícios na saúde. Como resultado,  há redução da frequência cardíaca e redução dos níveis da pressão arterial sistêmica.

Logo, a meditação pode ser associada  à terapia convencional para a redução do risco cardiovascular quando introduzida em conjunto com a  modificação do estilo de vida.

  • Dor

A meditação não muda a dor física, todavia através das “reconexões” dos circuitos cerebrais colabora para reduzir a atividade cerebral associativa e em contrapartida há mudança na experiência dolorosa. Como resultado, há melhor evolução do quadro doloroso quando associada ao tratamento convencional.

É importante salientar que a prática da meditação não substitui a avaliação médica,  o diagnóstico preciso ou tratamento adequado. Entretanto  tem se demonstrado na prática clínica que adição da meditação a protocolos convencionais de tratamento é efetiva.

Por fim,  a Sociedade Europeia de Cardiologia sugere que atividades que se contrapõem ao stress como depressão, e ansiedade  tanto quanto a meditação, podem facilitar a mudança de comportamento e melhora a qualidade de vida.

Mindfulness, por exemplo, não se trata apenas de deixar sua mente vagar ou tentar esvaziá-la. Ao contrário,  a prática envolve prestar bastante atenção no momento presente, seus pensamentos, emoções e sensações.

Que tal, então, tentar aplicar atenção plena em coisas simples do dia a dia? Como comer com atenção, observar as cores, suas texturas e sabor dos alimentos? Ou seja, nada de comer vendo televisão ou vendo mensagens do Whatsapp!

Isso é um começo. Procure, então,  saber mais sobre práticas de meditação.

Referências:

Arya NK, Singh K, Malik A, Mehrotra R. Effect of Heartfulness cleaning and meditation on heart rate variability. Indian Heart J. 2018;70(Suppl 3):S50-S55.

Braboszcz C, Cahn BR, Levy J, Fernandez M, Delorme A. Increased Gamma Brainwave Amplitude Compared to Control in Three Different Meditation Traditions. PLoS One. 2017 Jan 24;12(1):e0170647.

Krittanawong C, Kumar A, Wang Z, Narasimhan B, Jneid H, Virani SS, Levine GN. Meditation and Cardiovascular Health in the US. Am J Cardiol. 2020 Sep 15;131:23-26.

Levine GN, Lange RA, Bairey-Merz CN, et al. Meditation and Cardiovascular Risk Reduction: A Scientific Statement From the American Heart Association. J Am Heart Assoc. 2017;6(10):e002218.

QuintSchnaubelt S, Hammer A, Koller L, Niederdoeckl J, Kazem N, Spiel A, Niessner A, Sulzgruber P. Expert Opinion: Meditation and Cardiovascular Health: What is the Link? Eur Cardiol. 2019 Dec 18;14(3):161-164.

Sampaio CV, Lima MG, Ladeia AM. Meditation, Health and Scientific Investigations: Review of the Literature. J Relig Health. 2017 Apr;56(2):411-427.

Escrito por

Renata Di Francesco

Graduada em Medicina em 1993 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e especializada em Otorrinolaringologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP. Doutorado em 2001 e o título de Professora Livre-Docente foi obtido em 2010.
No dia a dia dedica, no consultório privado o cuidado com pacientes e familiares.
Ainda no Hospital das Clínicas da FMUSP, hoje, coordena o Estágio em Otorrinolaringologia Pediátrica.
Outros desafios:
Diretora da Educação Médica Continuada da ABORLCCF (2012-2014)
Presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (2015-2016)
Diretora Secretária da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia (2015),
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo-SPSP (2016-2019)
Coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento e Aprendizagem da SPSP (desde 2019)
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria -SBP (desde 2019).